Conheça o artista: Manzel Bowman
Manzel Bowman é um artista digital e ilustrador baseado em Amityville, Nova York, conhecido por suas ilustrações digitais distintas que fundem Afrofuturismo, surrealismo e simbolismo. Suas obras combinam elementos tecnológicos com motivos espirituais e naturais, frequentemente incorporando temas cósmicos e de ficção científica. Esse estilo único permite que Bowman explore questões profundas sobre identidade, humanidade e o futuro, a partir de uma perspectiva da África e da diáspora africana.
Ele rejeita a ideia de uma verdade objetiva e desafiando narrativas culturais globais. Bowman cria, a partir de elementos reconhecíveis, situações únicas que confrontam o condicionamento da percepção do espectador, forçando-o a reconsiderar suas posições enviesadas. Suas obras são desconstruídas de tal maneira que o significado é deslocado, permitindo uma multiplicidade de interpretações.
Prefiro criar os mitos em vez de acreditar neles.1
Bowman explora temas como espiritualidade, identidade e memória, utilizando uma abordagem afrofuturista. Ele reimagina figuras africanas e afrodescendentes como divindades cósmicas, projetando um futuro onde a cultura negra reina suprema. Suas obras, ao desconstruir formas reconhecíveis, criam uma ambiguidade que convida o espectador a revisitar suas percepções e mergulhar em um universo multifacetado de interpretações.
Com formação em design gráfico, Bowman se inspira nas mitologias africanas, e afrodiaspóricas que coleciona desde a infância. Sua série “Ancestral Royalty” é um exemplo de como ele retrata figuras negras como reis e rainhas intergalácticos, transcendendo as limitações temporais.
Acredito que a capacidade de pensar é um processo interdimensional, e a capacidade de criar vem de um reino assim. Eu sou interdimensional.2
Bowman é uma figura central no movimento Afrofuturista, que combina ficção científica, história e fantasia para explorar a experiência africana e imaginar futuros negros. Suas contribuições são essenciais para representar a diáspora africana, ao abordar temas culturais complexos que ressoam em várias comunidades negras.
Um exemplo notável de sua contribuição é a participação em “A Few Rules for Predicting the Future”, um ensaio de Octavia E. Butler, publicado em 2020. As ilustrações de Bowman dão vida visual às ideias afrofuturistas de Butler, misturando tecnologia e espiritualidade com paisagens cósmicas e surrealistas. Suas imagens complementam o diálogo profundo do ensaio, abordando questões de identidade, resistência e transformação, reforçando os conceitos centrais de Butler sobre a jornada humana e a capacidade de adaptação a um futuro incerto.

O trabalho de Bowman ganhou notoriedade através das redes sociais e inspira outros artistas negros a expressarem suas heranças culturais, por fazer parte de uma nova geração de artistas digitais afrodiaspóricos que utilizam a arte para recontar histórias marginalizadas. Suas obras ganharam destaque em diversas plataformas virtuais e nas redes sociais, inspirando outros artistas negros a explorar a ancestralidade em suas criações. Além de seu impacto visual, Ele inspira jovens artistas, especialmente da comunidade negra, a expressar suas heranças culturais e experiências pessoais por meio de meio da arte contemporânea. Seu trabalho desempenha um papel crucial no diálogo cultural e na inspiração das futuras gerações de criadores.
Afrofuturismo e Espiritualidade: A Reinvenção do Tarô por Bowman

Imagem divulgada no perfil oficial do artista no Instagram (@artxman). © Todos os direitos autorais pertencem a Manzel Bowman.
Bowman destaca a realeza e a espiritualidade negras, propondo uma visão utópica de futuro, onde a ancestralidade é uma força vital que molda a identidade e o destino da África e de sua diáspora. Uma de suas obras mais significativas é a reinterpretação do baralho de tarô, onde ele recria um imaginário em torno de pessoas negras, desafiando a ideia de que essa prática tenha origem exclusivamente europeia. Com ilustrações, colagens e impressões holográficas, Bowman incorpora elementos afrofuturistas em seus baralhos, conectando o passado ancestral ao futuro da diáspora africana por meio da metafísica africana, que une existência e espiritualidade.



Imagem divulgada no perfil oficial do artista no Instagram (@artxman). © Todos os direitos autorais pertencem a Manzel Bowman.
O trabalho de Bowman desafia a noção de que o tarô foi exclusivamente desenvolvido na Europa, destacando as conexões profundas com a sabedoria ancestral africana e egípcia. Tradicionalmente, muitos acreditavam que o tarô era uma criação europeia, mas, ao longo dos séculos, diversas interpretações reacenderam debates sobre suas verdadeiras origens. Entre esses estudiosos, o francês Court de Gébelin, no século XVIII, argumentou que o tarô continha o conhecimento oculto do antigo Egito, sugerindo uma relação direta com Hermes Trismegisto, uma figura central no hermetismo, onde a Árvore da Vida é uma representação simbólica das várias esferas da existência e dos caminhos espirituais que conectam o homem ao divino.
No Antigo Egito, a Árvore da Vida, associada à regeneração e à eternidade, simbolizava o renascimento. A Peut Neteru, também conhecida como “Árvore Divina”, desempenhava um papel importante na mitologia egípcia, conectando o mundo dos vivos aos deuses e representando a renovação vital. Ocultistas do século XIX, como Eliphas Lévi, associaram esses conceitos à Árvore da Vida da Cabala, que também se conecta aos Arcanos Maiores do tarô, transformando-o em uma ferramenta de autoconhecimento e desenvolvimento espiritual.
Algumas deidades foram transportadas do Egito para o Império Greco-Romano, entre elas Ísis e Hermes. Segundo autores afrocêntricos como Muata Ashby e Ra Un Nefer Amen, Hermes seria uma reinterpretação de Djehuti (ou Thot), o antigo escriba do deus Rá, responsável por registrar os mistérios divinos e o destino dos seres humanos. Djehuti teria documentado esses mistérios nas lâminas do tarô, que remontam à sabedoria mística egípcia. Nesse contexto, alguns estudiosos derivam o termo “Ta-Rosh”, de onde “tarô” se origina, como “o caminho real”, relacionado à deusa Hathor, que simbolizava o amor, a fertilidade e o renascimento. Para Jean-Baptiste Alliette (Etteilla), o tarô era uma versão distorcida do Livro de Thoth, e, posteriormente, figuras como Aleister Crowley expandiram essas associações, ligando o tarô às tradições egípcias e ao hermetismo.
A influência egípcia no tarot de Bowman.

Imagem divulgada no perfil oficial do artista no Instagram (@artxman). © Todos os direitos autorais pertencem a Manzel Bowman.
O trabalho iconográfico presente no tarô desenvolvido por Bowman está repleto de referências à iconografia egípcia, destacando conceitos de liderança, autoridade e espiritualidade.
Um exemplo notável é a representação da Imperatriz no tarô, que evoca a deusa egípcia Ísis. A imagem apresenta uma coroa ou um disco lunar sobre a cabeça da Imperatriz, um símbolo compartilhado com Hathor, ressaltando o equilíbrio entre o material e o espiritual. Nesta carta, Ísis é venerada como deusa da maternidade, magia e fertilidade, encarnando os princípios de nutrição e criação.
A presença da romã e da arquitetura romana na imagem não apenas simboliza fertilidade e renascimento, mas também ilustra a expansão do culto a Ísis no Império Greco-Romano, destacando sua influência transcultural e atemporal. Além disso, Ísis estava fortemente associada à Lua, especialmente em seu papel de protetora e guia nas jornadas espirituais. As fases lunares, ligadas ao ciclo de vida, morte e renascimento, reforçam seu papel como mãe divina, conectada ao céu e à natureza, com a Lua acentuando seu aspecto de guardiã e curadora.
Ao referenciar essa ancestralidade egípcia em sua arte, Bowman expande a compreensão do tarô, destacando as contribuições africanas para o desenvolvimento de sistemas místicos e filosóficos, que, ao longo do tempo, foram apropriados e reinterpretados pelo Ocidente. O trabalho do artista sugere que o tarô é muito mais do que um simples baralho europeu de adivinhação; ele é uma ponte para o conhecimento espiritual, transmitido através das gerações desde as antigas civilizações do vale do Nilo.
Contatos de Manzel Bowman:
Instagram: @artxman
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